Hoje domingo estava procurando algo curto para ler,
então fui procurar crônicas, lógico. Foi ai que eu encontrei esse texto super
fofo e resolvi vir postar como o texto da semana. Acho que está na hora de
começar a postar outras coisas no blog além de resenhas sobre livros e começar
a postar sobre outras coisas que eu gosto.
Então pra distrair um pouquinho...
Coração
de Papel - Fernanda Takai
"Sabe aqueles garotos que estão
na fase mais desajeitada do mundo, com ossos sobrando por toda parte? Ele era
assim. Com a voz nem grossa, nem fina. Cabelos que parecem precisar sempre de
um corte – nem lisos, nem anelados. Cotovelão, joelhão. A natureza parece que
está fazendo troça dele. Pois foi justamente nessa época que ele se apaixonou
pela menina mais bonita da sala.
Ela era uma princesinha. Não tirava
notas altas, mas passava sempre de ano, era esforçada e muito simpática. Todo
mundo queria ser do seu grupo de estudos. Tinha especial dom para trabalhos
manuais, a professora de artes não cansava de elogiá-la. Na época de festa junina,
era campeã de bilhetinho de correio elegante.
Numa festa do colégio, o menino mais
desajeitado do mundo mandou um coração de papel com uma mensagem para a garota
mais popular da sala. O anonimato o encorajava, tanto que ele mesmo entregou o
bilhetinho. No dia a dia ele era quase invisível mesmo…
− Pediram pra entregar pra você.
− Quem foi?
− Não posso dizer, prometi que não
contava.
− Que lindo!
− Tchau.
− Espera!
− O que foi?
− Você me diz quem mandou esse
bilhetinho?
− Tenho que perguntar antes. Daqui a
pouco eu volto.
Naquele dia ele não voltou. Algum
tempo depois, durante o recreio, ele a procurou de novo, dessa vez com uma
carta. Como escrevia bem, caprichou na declaração de amor.
− Tem outra mensagem pra você!
− Você sumiu aquele dia…
− Tive que ir embora.
− Quem é que manda essas coisas
lindas?
− Não posso contar.
− Você quer lanchar comigo?
− Agora?
− É, senta aí. Conta mais sobre esse
seu amigo secreto que gosta de mim…
− Ah, não sei se devo. Ele ia ficar
bravo se eu contasse…
Um período letivo se passou e mais
cartinhas misteriosas eram entregues. O menino mais desajeitado da escola
passou a ser o melhor amigo da menina mais bonita e simpática. Ele não se
continha de felicidade. Os outros não entendiam aquelas conversas constantes no
recreio. Ela dando cada vez mais atenção a ele.
Um dia ela lhe entregou uma
cartinha-resposta, como de costume.
− Pode abrir e ler.
− De jeito nenhum! Meu amigo ia ficar
chateado…
− Leia, por favor!
Ele começou em voz alta: “Querido admirador
secreto, acho que não podemos mais continuar à distância. Sei que você teme se
mostrar. Mas timidez tem limite. Durante esses meses de mistério, eu me
apaixonei por você e por suas palavras, mas também por outra pessoa. Talvez ele
nem goste tanto de mim como você diz gostar, mas prefiro arriscar a ficar nessa
incerteza. Por favor, pergunte ao seu amigo que me entrega as cartas se ele
quer ir ao cinema comigo…”.
O garoto corou. Dobrou a carta
lentamente e, ainda sem conseguir olhar para ela, perguntou:
− Você sabia?
− Desde o primeiro dia.
− Que bobo eu fui, né?
− É, mas eu adoro bobões desajeitados
que escrevem bem”